“Venezuelanos violentamente expulsos do Brasil ao som do hino nacional Brasileiro“. Nós, um dos países que menos recebem imigração e refugiados no mundo.
Uma pesquisa recente aponta que a presença estrangeira no país é uma das menores da história e do mundo. Mesmo com os Venezuelanos chegando, o número de imigrantes e/ou refugiados é de 0,4% da população – enquanto nos EUA, por exemplo, é de 12,3%.
Um país de dimensões continentais, talvez o mais rico em recursos naturais e o menos afetado por desastres naturais, sem inverno, abençoado por Deus. Mas, ainda assim, é compreensível a raiva de alguns brasileiros de Roraima contra os Venezuelanos. Estão todos lá, deixados à própria sorte e fome.
Outro dia, uma ONG de Boa Vista me pediu ajuda para criar um treinamento para os Venezuelanos que estão chegando lá. Ainda não consegui terminar o material. Simplesmente não sei o que dizer a eles. Diferentemente do fluxo de imigração dos haitianos, que podiam vir para São Paulo e serem aqui despejados, os Venezuelanos estão presos na Amazônia, sem transporte fácil para as grandes capitais. Isso fez de Roraima o primeiro campo de refugiados do Brasil. Roraima, estado da federação sem nenhuma condição para exercer tal papel. Uma panela de pressão que já começa a explodir.
Mas não vou falar aqui do conflito entre a Federação e o estado, nem dos imbróglios burocráticos aos quais esses refugiados ou imigrantes são submetidos. Vou falar do que faço.
Imigração para quem vem, aprendizado para quem acolhe
Desde 2013, a SIETAR Brasil (Society for Intercultural Education, Training & Research) desenvolve, em parceria com a Missão Paz, um projeto de sensibilização e treinamento intercultural para imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil e para as pessoas que trabalham com esse público. Já atendemos mais de 18 mil pessoas nesse período.
Este projeto começou no momento crítico da chegada dos haitianos no Brasil, momento em que qualquer pessoa que falasse francês já era de grande ajuda para a Missão Paz. Com o tempo, se consolidou com um grupo de mais ou menos 10 pessoas, que fazem um rodízio entre si para estarem todas as quartas-feiras no Glicério para oferecer a ajuda que podem e querem dar a essa causa.
Os principais aprendizados vêm no sentido de que:
- Quem trabalha com esse público sempre aprende mais do que ensina
- Para uma organização como a SIETAR, que é composta de concorrentes pelo mercado intercultural no Brasil, ter um projeto voluntário uniu os membros em prol de uma causa maior que as vidas, histórias e ambições de cada um deles
- Qualquer pouco que você fizer, com comprometimento, é muito
Fica cada vez mais fácil argumentar contra a ideia de que o Brasil é um país de imigrantes, embora tenhamos tido fluxos imigratórios bastante importantes em nossa história. E, principalmente, fica fácil argumentar contra o mito de que somos o país da diversidade.
Curioso que quando se fala de imigração raramente se fala do fluxo de africanos que vieram trazidos como escravos e que são a raíz de 55% da população brasileira que finalmente se assume negra – mas que está representada em não mais que 5% das posições de poder no país.
Mas tudo isso fica pra uma outra hora. Difícil mesmo é optar por ajudar um imigrante com 20% da própria população brasileira desempregada. O fluxo migratório para o Brasil atualmente não é necessariamente relevante, principalmente se comparado ao cenário europeu. Mas vida nenhuma é irrelevante.
Então se você fala outros idiomas ou simplesmente tem interesse por essa causa, me procure. Tenho certeza que consigo te integrar nessa corrente de gente que, mesmo triste por esse momento maluco que estamos vivendo no mundo, vem tentando fazer sua parte.
Trabalho voluntário é um valor bastante importante nas culturas americana e europeia que precisa ainda ser muito mais incorporado na cultura brasileira. Não é nada demais. É simples: o tempo que você tiver, quando tiver. Precisa apenas de constância.
Mariana Barros – 5511981112500