Por Mariana de Oliveira Barros
Nós, interculturalistas, utilizamos metáforas da maternidade com frequência. Elas mostram que, apesar de sermos todos seres humanos, os valores fundamentais que vão sendo transmitidos desde a nossa infância nos tornam seres humanos diferentes dependendo da cultura na qual fomos criados.
Um dos dilemas mais interessantes é o “dilema do bebê no berço”. Imagine que o seu bebê tem 4 meses de vida e você quer ensiná-lo a dormir durante a noite. O que você faz? Deixa ele chorar um pouco no berço (5 minutos) para que talvez ele se acalme, caso não seja um choro de dor ou fome e aprenda a dormir autonomamente? Ou você não suporta emocionalmente ouvir seu bebê chorar por tanto tempo (5 minutos) e logo pega ele e o enche de afeto?
Em geral, europeus tendem a responder a esse dilema com a metodologia de deixar chorar, enquanto as mães, pais e cuidadores brasileiros, em sua maioria, simplesmente não toleram nem pensar nessa ideia.
Pode parecer algo simples, mas o que está por trás das respostas a esse dilema são exatamente os mesmo valores que serão reproduzidos ao longo da vida pela comunidade a qual essas crianças pertencem.
Maternidade, valores e identidade cultural
Para europeus, os valores de auto-suficiência, autonomia e independência são fundamentais na experiência de vida de um indivíduo. Começa no berço, é reforçado ao longo da infância e adolescência, e tem seu ápice na entrada na faculdade, quando os jovens são incentivados a irem morar longe dos pais e desenvolver independência – inclusive financeira.
Já para nós, brasileiros, tirar o bebê do berço aparece mais como uma oportunidade de afeto e ligação, parte essencial do desenvolvimento do valor do relacionamento. Isso também será perpetuado na infância e adolescência, e inclusive na entrada na faculdade.
Qual mãe – e pai – brasileiros não sonham que os filhos saiam de casa só ao se casarem e que, se possível, venham morar na casa ao lado da casa dos pais e sejam vizinhos para todo o sempre?
Essa lógica segue até a velhice, onde europeus preferem não precisar depender dos cuidados de seus filhos e planejam muito de suas vidas levando isso em conta. É um cenário oposto ao dos brasileiros, que já entendem como óbvia a necessidade de cuidar dos pais quando mais velhos. Da mesma forma, os pais também têm essa expectativa de serem cuidados.
Obviamente, essas ideias são embasadas em generalizações, e muitas mães das culturas mencionadas podem não se identificar com o que estamos apresentando. Mas, se olhar um pouco à sua volta, você irá perceber que essas pequenas distinções que começam já na educação dos bebês serão a base das diferenças culturais que veremos futuramente no ambiente profissional dos adultos.
Quer saber mais sobre o assunto? Sugerimos a leitura do livro “Crianças francesas não fazem manha” (Pamela Druckerman). Uma interessante história de uma mãe americana que tem o desafio de educar seus filhos na França.
Cultura é aprendizado
Não acreditamos de maneira alguma que exista uma forma certa de educar. Nossa premissa sempre é que culturas são diferentes, jamais melhores ou piores.
Por isso, acreditamos que entender as diferenças desses valores culturais básicos que movem as sociedades pode nos ajudar a desenvolver autoconhecimento e empatia – necessidades universais do ser humano para melhor se relacionar com o outro, independente das culturas envolvidas.
Para as mães que vivem ou viveram em mais de uma cultura, ser mãe também envolve o desafio de escolher quais valores culturais serão priorizados na educação dos filhos multiculturais. Bota desafio de maternidade nisso!
Um feliz dia para todxs aquelxs que se identificam com a função da maternidade. E nesse ano em especial, para mim e para minha esposa, que estamos celebrando nosso primeiro “Dias das Mães”.